sábado, 26 de novembro de 2011

Batalha dos Aflitos: uma reflexão sobre a imortalidade

26 de novembro de 2005, um dia que dispensa apresentações e explicações. Dia em que o Grêmio derrotou o Náutico por 1 a 0 dentro do Estádio dos Aflitos, em Recife, assim consagrando-se campeão brasileiro da Série B daquele ano. Uma partida épica, histórica, um feito para a posteridade. Ainda convalescente por dores oriundas de um tumor medular não-descoberto, acompanhava o jogo sentado sobre minha cama. Rogério Corrêa narrando pela Rede Globo. Um pênalti perdido pelos pernambucanos. Escalona expulso. Grêmio no sufoco. Então, o pênalti de Nunes, que nunca existiu. A confusão com a polícia. Três jogadores expulsos. Dentes trincados, corpo tremendo, um pênalti que não acontecia. E a possibilidade de mais um ano na Série B me transtornava. Então os pés de Gallatto apararam a cobrança de Ademar. Explodi em um grito, lágrimas já desciam. Sequer percebi a expulsão de Batata. Então Anderson entrou na área. Gol. Incrível. Choro. Não conseguia sequer gritar. Uma emoção tão intensa, mas que teimava em não sair. Minutos mais de angústia. Enfim a vitória. Grêmio de volta à elite. Imortal Tricolor.

Seis anos depois... Imortalidade.

Palavra ainda tão utilizada por alguns gremistas mais fanáticos. Tudo é imortalidade. Tudo é mística. A imortalidade esvaiu-se na superação de confrontos ridículos e não se converteu em títulos desde então. De que vale então a imortalidade?

Exemplos não faltam de quando ela foi lembrada: a virada incrível de 4 a 0 sobre o Caxias em 2007. As viradas sobre o São Paulo e Defensor e a derrota com sabor de vitória para o Santos na Libertadores daquele ano. Um 4 a 4 com o Fluminense em 2006. O 4 a 3 sobre o Santos na semifinal da Copa do Brasil de 2010. O empate aos 50 minutos de jogo sobre o Caxias, que nos levou ao título do primeiro turno do Gauchão de 2011.

Mas... Onde estava a imortalidade:
. quando enfrentamos o Boca Juniors em 2007?
. quando patinamos na reta final do Brasileirão em 2008, que estava na nossa mão?
. quando ficamos brincando de procurar técnico em 2009 e jogamos no lixo a Libertadores?
. quando jogamos muito mal no Olímpico ante o Santos em 2010, perdendo depois na Vila Belmiro, o que nos impediu de buscar o penta da Copa do Brasil?

Onde estava a imortalidade quando REALMENTE precisávamos dela?

Essa imortalidade de hoje só serve para vitórias sobre times PATÉTICOS, na maioria das vezes. Ou depois de desempenhos patéticos de uma equipe que poderia fazer melhor.

Sou da geração que cresceu vendo os comandados de Luiz Felipe Scolari conquistarem o Rio Grande, o Brasil, a América. De quando o Grêmio vencia e era imortal quando realmente precisava. Como no gol genial de Aílton em 1996. Ou na final de 1997 no Maracanã.

O pior de tudo é que essa imortalidade pequena foi institucionalizada pelo Grêmio, especialmente quando até mesmo o presidente Paulo Odone não hesita em citar a Batalha como exemplo de superação. Investe não só em um momento muito ruim da história tricolor, como praticamente esquece os grandes momentos de nosso clube, como as Libertadores, as Copas do Brasil, os Brasileirões e outras competições em que demonstramos nossa verdadeira imortalidade.

Imortalidade esta de um clube que, por piores que sejam seus administradores, perdurará. Imortalidade esta de um time que se entrega, ataca, agride e não se dá por vencido. A imortalidade que só tem fim na vitória, na taça, no apogeu. E não na mediocridade de uma competição de segunda linha para onde só caem as vítimas da ingerência e incompetência.

Desde a “mítica” Batalha dos Aflitos, só tivemos uma equipe verdadeiramente de qualidade, eu diria, em 2007. Depois disso, sofremos com jogadores de segundo e terceiro escalão, figuras como Rafael Marques, Hidalgo, Gilson e Carlos Alberto. Pior ainda: o Grêmio transformou-se em um palanque para um presidente frouxo, que não hesita em inundar o site e as redes sociais do clube com auto-referências e elogios, que se humilha em negociações absurdas como as de Kléber e Ronaldinho. E indo mais fundo, o clube é cenário de disputas veladas entre diversas correntes de pensamento, cada uma buscando seu espaço dentro do clube, sem uma unidade que permita ao Grêmio ter foco, ter objetivos.

Como torcedor gremista, minha única opção aqui é clamar: deixem de vangloriar a Batalha dos Aflitos. Ela é importante? Sim, é. Mas não pode ser uma referência de nosso clube. Nosso norte deve partir dos imortais de Espinosa, de Scolari. Precisamos dar à nova geração motivos maiores para se orgulhar, do que vitórias contra Náutico, Caxias, Defensor. Vitórias sofridas não são títulos em si. São apenas vitórias que vendem boas capas de jornal e servem quando muito de fator motivacional para os jogos seguintes.

O que o torcedor gremista quer é título. O que queremos é um Grêmio Imortal de fato. Isso só será possível com o fim do pensamento pequeno e da superação de interesses pessoais, convergindo para um único objetivo de todos que idolatram o azul, preto e branco: títulos.

Essa é a verdadeira Batalha dos Aflitos. Se vencermos essa partida, voltaremos a ser, de fato, imortais.

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