terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Língua Portuguesa: um patrimônio a ser preservado

Minha redação para o Vestibular UFRGS 2012.

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O que identifica brasileiros, portugueses, cabo-verdianos e moçambicanos como cidadãos de suas respectivas nações? Mais do que a lusofonia em comum, são as peculiaridades e culturas intrínsecas à forma como se desenvolveu a Língua Portuguesa em cada país. Pelo idioma reconhecemos nossa identidade enquanto nação e nos apresentamos para o mundo. Torna-se cada vez mais necessário preservar esse patrimônio linguístico, um desafio que passa pela valorização do idioma no dia-a-dia, educação de qualidade e revisão do acordo ortográfico.

A Língua Portuguesa é a quinta mais falada no mundo, sendo compartilhada por 244 milhões de pessoas. Os países lusófonos, por sua vez, ganham maior espaço no cenário mundial. Entretanto, na direção oposta ao movimento global, o uso correto do idioma é cada vez menos valorizado. Tal fato é notável especialmente na internet, onde apesar de ser a quinta língua mais falada, o português é sucessivamente vitimado. Claro, a linguagem na "web" tem suas idiossincrasias. Mas uma passada rápida pelas redes sociais é suficiente para verificar erros primários de escrita e expressão.

Erroneidades não são fruto apenas do desleixo. São também reflexo de uma educação deficitária, principalmente no Brasil, onde os investimentos no setor são insuficientes, a leitura não-obrigatória é pouco promovida e escolas e professores sofrem duras penas. Tudo isso é prejudicial ao idioma. É preciso que o bom uso e preservação da Língua Portuguesa seja compreendido como meio de manter viva nossa identidade cultural e também fator decisivo para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Um passo maior para preservar nosso idioma é, sem dúvida, a revisão do recente acordo ortográfico dos países lusófonos. A iniciativa foi bastante prejudicial, pois, ao unificar a escrita, acabou com muitas características próprias de cada país no uso da Língua Portuguesa. O exemplo mais claro é o de Portugal, onde palavras como "húmido" e "acção" perderam o "h" e "c", respectivamente. Um duro golpe na identidade idiomática daquele país.

É através do idioma que nos reconhecemos como indivíduos de uma nação. A desvalorização e a perda das peculiaridades da Língua Portuguesa são um "Adamastor" que se coloca no caminho. Esse "Adamastor*" só será superado localmente através do investimento maciço em educação e resgate da importância cultural e social do idioma. No âmbito global, é necessário reavaliar o acordo ortográfico. Tudo isso, para que nossa história e cultura da linguagem sigam vivas e que aflore em cada um o reconhecimento e orgulho de falar português.


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* Adamastor, personagem de Luís de Camões: http://pt.wikipedia.org/wiki/Adamastor_(mitologia)